As mulheres de São Gonçalo-PB
Acostumei-me a ver dois tipos de mulheres
naquelas paragens paraibanas:
as que moram em casas, com comodidade,
outras, brasileiras, mas de origem asiática.
Estas vivem soltas, nos quintais, por grandes extensões,
perfilhadas nos umbrais e alamedas.
Quase ingenuamente crescendo ativas,
e quando estão viçosas, com suas irmãs,
pelos campos, são seres que nunca dão cuidado.
Sugam o alimento da terra, e boa água lhes sustenta.
Vez em quando, na simplicidade, o que pedem
é a retirada da roupagem velha, desgastada.
Ao longo do tempo, serenas, embelezam-se
com flores. Esguias, enchem-se de cachos.
Balançam-se ao vento, em bailados, inquietas,
num barulho, como a estalar os ossos.
Quando chegam à idade produtiva,
lançam muitos filhos pelo mundo!
Então, começa todo o sofrimento.
E como escravas, tudo o que geraram é vendido.
Chegam seus donos decepando-lhes,
retirando os descendentes dos seus braços.
São arrastados, ainda imaturos, pra vendê-los
nos mercados, nas feiras, até nos hospitais.
Serão úteis aos sedentos, aos calorentos.
Os proprietários levam seus filhos às festas,
toldam-lhes de whisky.
Ainda não satisfeitos, carregam
o que elas produzem para as indústrias,
despem sua roupa esponjosa,
aniquilam seu bago, raspam até as entranhas.
Procuram extirpar-lhes, exploram sua “carne” branca,
a sua gordura, o seu leite.
Sabes, és uma mulher de fibra!
Nunca te aparece uma feminista em tua defesa,
e as outras mulheres e filhas do patrão
vêem todo teu labor em produzir, e nem rezam a ti,
em agradecimento. Vivem vaidosas,
devido a tua exploração!