Os Três Santos no Nordeste e a Covid-19
Tudo começou um dia pelo povo português,
Que por aqui chegou fazendo o sinal da cruz,
Cuidou de rezar missa – era tudo em latinês,
Para os índios foi difícil até o nome de Jesus
Semeou-se no Brasil esta bela tradição:
Festejar a colheita com espírito de alegria,
Agradecendo o alimento, fruto do seu torrão,
Porque era assim que sempre se fazia
Muito conhecidos ficaram os três santos:
Santo Antônio – dizem que é casamenteiro...
São João – tem em si muitos encantos...
São Pedro – do céu é o eterno porteiro...
E assim caíram eles no gosto popular.
Mas em 2020, Santo Antônio reclamou,
Pois fugiu dele quem queria se casar
E em 2021, quase tudo piorou...
Ele, muito tristonho, saiu lá de Pádua.
Nem o seu fiel menino no colo ele trazia
Porque já sabendo que a luta era árdua
E que por aqui se alastrava a pandemia
Depois disso, foi a vez de São João
Que se distanciou até do seu carneirinho.
Este já muito berrava em plena solidão,
E o povo do Nordeste chorando caladinho
Daí veio São Pedro que reclamou também.
Disse ele: “Vou entregar a chave do céu,
Porque aqui já não cabe mais ninguém...”
E não teve mais forró, só “live” sem fogaréu...
O Nordeste se juntou, mandando o seu recado:
Cachoeira, no Recôncavo, só o cheiro do licor.
Campina Grande falou do seu povo animado.
Já em Cruz das Almas – a espada se calou
Do Rio Grande do Norte até a Velha Bahia,
O mar muito revolto – solstício de inverno.
E o povo furioso, sem praia, sem regalias...
Dizia aos três santos: “Este vírus é o inferno”.
Apareceu um aviso lá em Senhor do Bonfim,
Cidade do forró e de um povo hospitaleiro,
Estavam a dizer: uns “não”, outros, “sim”,
Que havia promessa pra se dançar de joelhos
.
Rezava-se em Petrolina, Caruaru e Seabra...
A pequena Andorinha voou até o seu cruzeiro
E carregava esperança, na ponta de cada asa,
A lembrar uma sanfona no peito do sanfoneiro.