Salinas

(Em homenagem a minha cidade natal encravada no Vale do Jequitinhonha – Polígono da Seca – Minas Gerais)

Cidadezinha escondida nos montes

Há como te esquecer?

O sol queimando ao ocaso

Nas cores do entardecer.

Lembranças dum coração

Num rio de águas turvas

Serpenteando em curvas

Trazendo o aluvião

Igrejinha pintada a cal

Imagens sobre andores

A cruz traçando o sinal

Eternizando os amores

Trinados de um canário

Gorjeios lembrando hinos

Aos sons dobrados de sinos

No alto do campanário

Pedras, ruas lajeadas

Construções de braço escravo

Desbravador, bandeirantes

Montanhas, minas, carvão

Filete de águas salgadas

Atravessando o sertão

Lendas de almas penadas

Contadas na escuridão

Muros de pedras nuas

Chão de terra batida

Pobres e poucas ruas

Luzes de lampião

Vendinha em beira de estrada

Céu em noite estrelada

Serenata nas calçadas

Ao som do acordeão

Cadeiras nas portas das casas

Namorados nas varandas

Troca de furtivos beijos

Brincadeiras de ciranda

Conversa de velhas comadres

Cessa a labuta do dia

Hora bendita do Ângelus

Ao sopro da Ave-Maria

Lua de prata espraiada

Chuva cai de mansinho

Canção em viola de pinho

Invadindo a amplidão

Vagalumes nas ladeiras

Lamparinas nas porteiras

Sereno da madrugada

Varrendo a imensidão

Salinas das turmalinas

Berilos, cristais, rubelitas

Esculpida a ferro e fogo

Encravada no sertão.

Em cada lugar que passo

Em toda linha que traço

Saudade lembra teu nome

Gravado no coração

Roseli Verene
Enviado por Roseli Verene em 17/05/2021
Código do texto: T7257984
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