Salinas
(Em homenagem a minha cidade natal encravada no Vale do Jequitinhonha – Polígono da Seca – Minas Gerais)
Cidadezinha escondida nos montes
Há como te esquecer?
O sol queimando ao ocaso
Nas cores do entardecer.
Lembranças dum coração
Num rio de águas turvas
Serpenteando em curvas
Trazendo o aluvião
Igrejinha pintada a cal
Imagens sobre andores
A cruz traçando o sinal
Eternizando os amores
Trinados de um canário
Gorjeios lembrando hinos
Aos sons dobrados de sinos
No alto do campanário
Pedras, ruas lajeadas
Construções de braço escravo
Desbravador, bandeirantes
Montanhas, minas, carvão
Filete de águas salgadas
Atravessando o sertão
Lendas de almas penadas
Contadas na escuridão
Muros de pedras nuas
Chão de terra batida
Pobres e poucas ruas
Luzes de lampião
Vendinha em beira de estrada
Céu em noite estrelada
Serenata nas calçadas
Ao som do acordeão
Cadeiras nas portas das casas
Namorados nas varandas
Troca de furtivos beijos
Brincadeiras de ciranda
Conversa de velhas comadres
Cessa a labuta do dia
Hora bendita do Ângelus
Ao sopro da Ave-Maria
Lua de prata espraiada
Chuva cai de mansinho
Canção em viola de pinho
Invadindo a amplidão
Vagalumes nas ladeiras
Lamparinas nas porteiras
Sereno da madrugada
Varrendo a imensidão
Salinas das turmalinas
Berilos, cristais, rubelitas
Esculpida a ferro e fogo
Encravada no sertão.
Em cada lugar que passo
Em toda linha que traço
Saudade lembra teu nome
Gravado no coração