Meu lar nordeste

Sou paraibana e sei de minhas lutas

Fugir sem ao menos tentar

Ver muitas trocando seu corpo por pão e serem chamadas de putas.

Ou aquelas que o estender a mão

Não sabem decifrar.

Só quem vive

E passa por dificuldade

E vê gente duvidando

De sua capacidade

Com teu nome rodando pela cidade

Sabe o que estou dizendo.

Entenda de uma vez por todas:

O teu espaço não estou querendo

Eu quero o meu.

Não quero seu olhar de estranheza

Meu sotaque também faz parte da língua portuguesa

Ser mulata e arretada

A própria vaquejada num dia quente

Mulher também é homem

E homem também é mulher

Um é contente

E outro não sabe o que quer

A vida é uma entrevista de emprego

Que te pergutam de onde você é

Tu responde e entendem como quer.

Me acham sem cultura e julgam minha aparência

Contratam meu amigo paulista e o sulista na espera

E eu na inocência

Querendo ouvir um não, quem me dera!

Não escuto nada e a porta na cara da cidade grande

É o lugar mais alto que a vida vai me colocar

Deixa eu te contar: no meu lar não preciso de prerrogativas

Falar bonito

Arrumar intrigas

Sou o que eu quiser ser

E na minha terra não tem palmeiras

E nem sábias

Os cactos que aqui verdeiam

Nosso mar não é de lá.

É de lar.

Ser cabra da peste

É ser do nordeste é ter um lar.

Meu lar nordeste.