Memórias(África)
MEMÓRIA
Viram em mim a formusura
De uma moça
E disputaram-me
Como se estivesse em leilão
Viram em mim
As grandes riquezas do rei Salomão
E sentiram em mim
A temperatura mais elevada
De todo o verão
Eu fui encontrada
Eu fui levada
Eu fui apunhalada
Por aqueles aquém pensei
Serem amigos
Mas me enganei
Aquelas vestimentas
Engomadas não passaram de
Seres impiedosos e oportunistas
Eu fui maltratada
Enquanto o sol nascia
E quando a lua dormia
As chicotadas nas minhas costas
Desenhavam a tristeza da
Minha sofrida vida
Eu gemi de dor
Quando talvez
Devia gemer de prazer
Na calada das noites
Depositavam brutalmente
Suas sementes
Em meu útero inocente
E fértil
Por muito tempo
As minhas estações
Foram escuros
Exaustivos
Melancólicos
Carregados de choros
Perdas e sorrisos ásperos.
Esta é a memória
Que perpétua na história
Da minha vida
Eu sou África
Eu sou África
Grito novamente
Eu sou África
Eu sou livre
Eu morri
Eu lutei
Eu renasci
Eu venci
Eu sou resistente