CASA DE FARINHA
Meu avô Nô Diogo
Tinha casa de farinha,
Seu Anísio, seu Edrísio
E seu Gino também tinha,
Também Noel Atanásio,
E seu Odilon, visinha,
Sem falar de seu Dudu
Que muita fama detinha,
Mais a de Genival Costa
Que tanto amou a terrinha.
Eram tantas espalhadas
De Pilar para serrinha
Que se eu fosse aqui contar
Só findava à tardezinha!
Mas os anos se passaram
E tudo modernizou-se,
Aquela cultura antiga
Por todo canto acabou-se.
Aquele tempo feliz
De paz e prosperidade,
Aquele tempo agradável
De tanta fraternidade,
Foi soterrado nos anos
Da tal da modernidade!
Inda recordo, criança,
As noites de farinhada,
O povo alegre, cantando,
Até pela madrugada.
O trabalho era gostoso,
Ninguém com a cara feia,
As famílias reunidas
Em volta de uma candeia,
Contando histórias, fofocas,
Descascando as mandiocas
Das terras de Chã de Areia!
E quando a fome chegava
Um beiju logo comia
E tomava um pouco d'água
Guardada numa quartinha.
E quando o sono apertava
Menino logo dormia,
A mamãe lhe agasalhava
Por causa da noite fria,
E quem não tinha casaco
Dormia dentro de um saco
Até chegar novo dia!
Essas lembranças eu guardo
E conto com nostalgia,
Do meu tempo de criança
Que a memória irradia;
Naquele tempo, meu Deus,
Muita bondade se via,
Um povo trabalhador
Que a todo mundo servia.
Na nossa comunidade
Tinha tanta f’licidade,
Tanto amor, tanta alegria!