16- COMO É BOM SER SERTANEJO - CASOS E COUSAS SERTANEJAS - JOACA ROLIM
I
Seu doutor quer ver bonito
É o caçador do sertão
Lá no mato animação
De quando em quando um grito
E também dar um apito
Quando o veado se espanta
Que da cama se levanta
O rastejador pega o rastro
Mesmo por cima do pasto
Sem limpar nem a garganta
II
Dali da espantação
Começa o rastejador
Com um chocalho tocador
Vai mostrando a direção
Lá na frente um veadão
Se desviando da morte
O caçador bota um corte
Ouvindo o tom do chocalho
Por fora bota um atalho
Fica o veado sem sorte
III
Dez ou doze caçadores
Vão pela frente emboscando
Pelo veado esperando
Com o cão no armador
Quando um diz ele voltou
Todos dali saem correndo
Seu doutor só mesmo vendo
No mato a quebradeira
Formando a grande esteira
Do veado se escondendo
IV
O veado vem na carreira
Para passar pelo meio
Não sabe do tiroteio
Cai que levanta a poeira
Ali se torna uma feira
Quando junta o caçador
Um velho diz que atirou
Em riba do coração
Para dar uma lição
A um moço atirador
V
Também é muito bonita
No sertão a pescaria
Parece uma romaria
Seu doutor não acredita
Não estou fazendo fita
Porque é grande a riqueza
Vem de toda redondeza
Homem menino e mulher
Porque o povo ali quer
Gozar daquela beleza
VI
Ao redor do açude
Parece uma procissão
Vem tocador de baião
Para toda juventude
Que ali goza saúde
Comendo peixe a vontade
Que esta felicidade
A quem tem o sertanejo
Em outra parte, eu não vejo
De que goze a mocidade
VII
No fim do dia reparte
A metade é do patrão
E para suas casa vão
Satisfeito com a arte
Dizendo sou um baluarte
Na vida de pescador
Também sou bom caçador
Acho boa a vida assim
Nunca que quero pra mim
Este anel de seu Doutor
VIII
Não pense ser brincadeira
Vá conhecer meu sertão
Olhar uma apartação
Como é bonita a carreira
Mulher vestida em perneira
Gibão e chapéu de couro
E enfrentar qualquer touro
Na mão enrolar o rabo
E gritar corre diabo
Que quero arrancar seu couro
IX
Seu doutor estando vendo
Uma grande vaquejada
Sem uma boa montada
Só pode é ficar roendo
Durante o tempo sofrendo
Vendo a vida de verdade
Tem nojo aqui da cidade
Que só se fala em política
E nós no sertão faz critica
Só gozando a liberdade
X
Quando há aniversário
Das bodas de um sertanejo
Todo mundo tem desejo
De abraçar o proprietário
Quando chega o seu vigário
Só parece uma missão
Mata boi mata capão
E vem a cabocla Chicola
Que a noite e o dia enrola
Dançando xote e baião
XI
Essa cabocla Chicola
No seio tem dois cuscuz
Que a todo homem seduz
Quando toca nesta mola
La dentro de uma sacola
Todo tempo a peneirar
E o velho a desejar
Passando a festa doente
Desejando ter bom dente
Para o cuscuz mastigar
XII
Seu doutor tudo eu contei
Como é esta cabocla
Deixa muita gente louca
Até eu mesmo fiquei
Quando eu me abracei
E fui com ela dançar
Começou a me esfregar
E os dois cuscuz me furando
Seu doutor está duvidando
Vá com Chicola sambar