13- O QUE VI EM FORTALEZA - CASOS E COUSAS SERTANEJAS - JOACA ROLIM
I
Seu Eloi eu vou contar
Da minha grande tristeza
Quando entrei em Fortaleza
Das coisas que vi por lá
Não posso nem comparar
Com as coisas do meu sertão
O povo tem um fivião
Uns pra lá outros pra cá
Não se pode nem andar
Parece um formigueirão
II
Fui numa tá de avenida
Que chama Zé Alencar
Tentei e não pude entrar
Com tanto carro em seguida
Todos fazendo a partida
Pra todo lado saia
E eu que nem um queria
Fui pra praça do Ferreira
Vi a escada em toda carreira
Por onde o povo subia
III
Fiquei todo arrepiado
Com aquela arrumação
Só sendo arte do cão
Fazer aquele dobrado
Fiquei logo atordoado
Noutra rua eu viajei
Logo de longe avistei
Uns leão lá atrepado
Sai baixinho assombrado
Depressa me arretirei
IV
De nada eu tinha alegria
Sai fazendo o destroço
Vendo aquele alvoroço
Fiquei pensando um dia
Como o povo ali comia
Tanta gente ali morando
E nem um está plantando
Como é nós no sertão
Que fazendo a plantação
E nada está chegando
V
Saí por ali calado
Só fazendo uma ideia
De entrar lá na assembleia
Pois me achava apertado
No portão tinha um soldado
Disse a mim não pode entrar
Seu guarda eu quero falar
Somente com um deputado
Você chegou atrasado
Vá por aí se virar
VI
Entrei em uma travessa
Como quem pisa em brasa
Desejando ali ter asa
Para voar bem depressa
Porém fiz uma promessa
Para poder escapar
Caminhando devagar
Só por riba das calçada
Vi muitas casas atrepada
E desejei numa entrar
VII
As casas era um edifício
E perguntei é o Diogo
Ao mesmo eu pedi arrogo
Pra ver dentro o rebuliço
Me levaram a um cortiço
Por nome de elevador
Senti lá dentro um tremor
Só para o amigo eu digo
Que foi o maior castigo
Que meu deu nosso Senhor
VIII
Quando desci viajei
Com destino ao oceano
Fui fazendo todo plano
Também depressa cheguei
Porem quando eu avistei
Que vi aquele açudão
Me lembrei do meu sertão
Das grandes curumatã
E do bando de ribançã
Que dá gostoso pirão
IX
Senti no corpo saúde
Quando vi o horror d’água
Porém também uma magoa
Me lembrei do meu açude
Fui rodear e não pude
Por aquela areia a fora
Andei mais de quatro hora
Já parecendo um louco
Quando encontrei um caboco
Me perguntou onde mora
X
Eu moro lá no sertão
Natural de Itapemirim
Sou o Joaca Rolim
O seu criado patrão
Segurado em sua mão
Foi logo dizendo assim
Você acompanha a mim
Porque quero lhe salvar
Não vá o mar rodear
Que nunca chega ao fim
XI
Vamos nós dois a cidade
Pra você ver as belezas
E contar lá com certeza
Todas as suas novidades
Eu ali já com vontade
De dizer o que queria
Se ele já conhecia
Uma festa no sertão
Nas noites de São João
Todas beleza que havia
XII
Seu moço vou lhe dizer
Minha beleza qual são
É andar no meu sertão
Sem precisar de correr
Aqui só faltei morrer
Tudo eu achei esquisito
Eloi já tinha me dito
lá tudo é diferente
Não é o sertão da gente
Que nós todo acha bonito