Colonizar
Fomos uma geração sem inimigo
dos hemisférios ao solo mais antigo
Tupã, Jaci e Guaraci,
deuses indígenas que governavam aqui
Eis as caravanas, trazendo armas, derramando sangue
o homem branco, fidalgo e Cabral
se apresentando, ao agora
Brasil colonial
Durmam com as índias,
matem os pajés,
aniquilem os xamãs
escravizem Tapirapés
Me tragam Pero Vaz
peço que escrevas sobre o Brasil,
um Brasil de muitos Brasis,
piraqui, mas só fale até aqui
Enriqueçam e se divirtam
eis à terra de Santa Cruz
dessa terra extraio
açúcar e Pau-Brasil, por algo que reluz
Os ancestrais choram
choram as rosas, à terra e a paz
que um dia o solo mais sagrado
pelo homem branco foi desrespeitado
Memórias em chamas,
reminiscência fragmentada
por anos espantadas
Um indígena cativo e ferido,
sou apenas um poeta perdido,
consumido pela história
tentando resgatar a memória.
Índios Guarani, Pataxó e Macuxi
Tupinambá, Caetés e Tupiniquins
geração marcada pela luta e escravidão,
e agora, só triste recordação
Dos hemisférios ao solo mais antigo,
persiste a dor de um povo
cujas vidas foram tiradas,
cujas histórias ainda queimam.