MILONGA DO INFINITO

Igual olhar benfazejo
Da amorosa tirana
Se adensando nos ares
Radicada ou haragana
Assim avulta a milonga
Tão recatada e profana

Tem seus meneios de musa
Embuçalando o teatino
É contradança dos ares
Dissuadindo o peregrino
Tal e qual o vento norte
Regalando desatinos

Parece anseio de moça
Que espera o que não conhece
Parece ânsia de fêmea
Que à noite recrudesce
Parece fogo de viúva
Que não se apaga com prece

Bem lá, num fundo de campo
Em que o silêncio é toada
Vibra um assovio de vida
Com uma saudade incrustada
Quem tem seu olhar pra dentro
Pode cerzir a estrada

Mate, café de cambona
Minúcias do dia a dia
Vai singrando no entorno
Em modesta sinfonia
Feito coplas do exílio
Que se alastram fugidias

Um dia viemos assim
Nesse mistério adstrito
Não importam os caminhos
Fica o dito por não dito
Com as saudades impressas 
Na milonga do infinito.
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 26/08/2020
Reeditado em 26/08/2020
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