MEU CHIMARRÃO
 

Meu chimarrão é arraigado

Na memória deste pago

Sabor que traz de outrora

Gauchadas de índio vago

Intervalos de recontros

E recônditos afagos

 

Velha seiva avoenga
Infusão do meu pensar
Quando te cevo e te sorvo
Sinto o gaúcho a pealar
Na changa, o gado altivo
Das “vacarias del mar”

Madrugada, uma estrela
Surge amadrinhando a lua
Fico olhando esse balé
Visível na pampa nua
Onde foste o desejum
De um intrépido charrua

Teu ritual vara o tempo
Encadeando os afetos
Um pai mateia com o filho
Que há de matear com seu neto
Tu és parceiro nas mágoas
Dos corações irrequietos

Até nalgum lupanar
Tu traquejaste com brilho
Pro taura que te bebia
Entre a canha e o idílio
Foste o tirão de saudade
Dalgum gaúcho no exílio

Num namorico de maio
Uma mão a outra encerra
Tão delicado e profano
Teu ronco é o touro que berra
Ou a transfusão de sangue
Do índio morto na guerra

Dedico este chimarrão
À memória do meu pai
Enquanto intumesço a erva
Ouço ao longe um sapucai
E o sol reluz num dourado
Aos corcovos no Uruguai.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 12/08/2020
Reeditado em 17/09/2022
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