GONZAGA E LAMPIÃO, LAMPIÃO E GONZAGA

Minha vez de cantar uma peleja

Sem que haja nela confusão

A prosa é de outra natureza

É coisa sem muita explicação.

Apronte os ouvidos, escute e veja:

Iniciarei a minha modesta louvação

Pra falar, sem rodeios, da beleza

De duas figuras de lá do sertão.

São duas mais que pessoas; altezas

Um é um “cabra” valentão.

O outro, um cantador de grandeza!

Vou misturar as estrofes, então:

De um lado o rei do cangaço

Homem valente com arma e gibão

Seu nome é mesmo virgulino, acho!

O lendário guerreiro, vulgo lampião.

Do outro o rei das festas; o dono do salão

Luis Gonzaga é seu nome de nascido

Mas todos aclamam o rei do baião

E no mundo todo é assim conhecido.

Cortar a caatinga feito um trovão

Fugir da volante a galope ligeiro

Deixar os ricos sem nenhum tostão

Aterrorizou o nordeste brasileiro.

Sua voz de vaqueiro, chapéu também

O filho de Januário logo encontra um ofício

Tornou-se sanfoneiro como ninguém

E Exu ficou pequeno e o dinheiro difícil.

Sua fama de valentão se espalhou

E o nordeste todo apavorado

Mas seu coração logo se aperreou

Ao vê Maria bonita, ficou já condenado.

A fama de Luiz chegou logo no sul

E o país todo ficou maravilhado

Com o filho de Januário lá de Exu

E como rei por todos foi aclamado.

Apesar de durão, o cangaceiro era temente

E com seu bando, a Deus recitava oração

E vendo-se assim protegido, seguia imponente

Com as benções de padre Cícero Romão.

Em sua maravilhosa canção

Luis Gonzaga vez por outra lembrava

Do seu santo frei Damião

E a ele, lindos versos, destinara.

Vivendo a correr da volante

Lampião aterrorizou todo sertão

Com suas vestes únicas, até elegante.

Só não pisou no Piauí e maranhão.

A música de Gonzaga cruzou a fronteira

Todos queriam interpretar seu baião

Chegando até no longe estrangeiro

A asa branca se ouviu de montão.

O governo brasileiro decretou, então:

Quero logo o fim do cangaceiro

De sua cabeça, eu não abro mão

Enviou pra missão João bezerra, o traiçoeiro.

Gonzaga cansado e famoso lembrou-se do seu chão

E a sua missão, de certa derradeira

De cantar em sua terra não abriria mão

E para Exu desceu a última ladeira.

Lampião em sua ultima peleja

Não abriu mão da derradeira oração

Foi traído pego de surpresa

E sua cabeça foi posta em cruel exposição.