Adeus meu quilombo, adeus!
Essa noite é de vigília, vai ser uma vigília longa
Os tambores vão rufar...
Vai ser uma noite de choro comprido,
De muito lamento, madrugada afora.
Nós, negros do alto da serra, estamos órfãos,
Estamos prestes a sumir, só Deus sabe pra onde.
Vamos cantar, vamos cantar a noite inteira
Estamos nos despedindo daqui.
Meu pai e minha mãe vieram da Bahia,
Eu não, eu nasci aqui.
Eles fugiram da chibata, das humilhações,
Embrenharam pelas matas da Jaíba e refugiaram na beirada
Do Rio Verde Grande.
Tiveram a proteção da Malária, da Febre Amarela.
O duencêro era a garantia deles, pois, os brancos não chegavam lá.
Araram a terra, botaram roça.
Meu pai morreu do coração, foi de repente, ainda tava na lida.
Minha mãe foi pouco tempo depois, andava muito triste,
Foi aos poucos se acabando, deve ter sido de saudade.
Logo em seguida perdemos as margens do rio,
As terras baixas foram tomadas de nós,viraram fazendas.
Ficamos recantilados no sopé da serra,
Agora o sopé virou parque, diz que virou reserva permanente.
Hoje o canto é de dor, é de despedida.
E agora, pra onde vamos?