Lamento das Gerais
As serras da minha terra,
A um só tempo, protetoras e opressivas.
O que haverá além?
Berço que acalenta e aprisiona,
Como uma grande muralha da China.
A ultima defesa contra ataque
Dos cavaleiros dos metais,
E suas tropas medievais,
Na arena do grande sertão.
Serras que protegem em lânguido ninho,
Espelhos de reflexos profundos e distorcidos.
Túmulos profanados.
Escola de mestres vencidos.
Templo de vestais corrompidas.
Um acalanto puro transformado
Em grito angustiado de capital promiscuo.
Eis o que restou daquela promessa
Guardada a sete chaves,
No seio da terra, ao reflexo das águas.
Um paraíso queimado
Na fogueira impiedosa da ambição
E da vaidade
Filha bastarda do progresso vendido.
No culto ao bezerro de ouro,
Na destruição das matas,
Na poluição das águas,
Assassinato em massa
Dos valores e tesouros
Que a mãe-natureza
Nos legou de graça.
Serra rasgada, terra ferida,
Vertendo lagrimas de sangue.
Um caudal de lama avermelhada,
Saindo de suas entranhas dilaceradas,
Com um grito de puro desespero.
O que restou a nós, poetas da terra,
Alem de um triste lamento?
Se as engrenagens do progresso
Não podem parar,
Se sua bocarra enorme não pode se calar?
Talvez o silencio dos rendidos
E a caneta revolucionaria dos aflitos.