Chimarrão

Amargo doce que eu sorvo

Num beijo em lábios de prata.

Tens o perfume da mata

Molhada pelo sereno.

E a cuia, seio moreno,

Que passa de mão em mão

Traduz, no meu chimarrão,

Em sua simplicidade,

A velha hospitalidade

Da gente do meu rincão.

Trazes à minha lembrança,

Neste teu sabor selvagem,

A mística beberagem,

Do feiticeiro charrua,

E o perfil da lança nua,

Encravada na coxilha,

Apontando firme a trilha,

Por onde rolou a história,

Empoeirada de glórias,

De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos,

Ao ronco do teu findar,

Ouço um potro a corcovear,

Na imensidão deste pampa,

E em minha mente se estampa,

Reboando nos confins ,

A voz febril dos clarins,

Repinicando: "Avançar"!

E então eu fico a pensar,

Apertando o lábio, assim,

Que o amargo está no fim,

E a seiva forte que eu sinto,

É o sangue de trinta e cinco,

Que volta verde pra mim.

Glaucus Saraiva
Enviado por Eduardo Antonio Hoffmann em 11/02/2020
Código do texto: T6863304
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