BARRO E FÉ
Tenho a fé e tenho o barro
alguns palmos sobre o chão...
- Uma cruz por paradeiro;
E o destino de “Barreiro"
fez do rancho, um coração.
Tenho a fé e tenho o barro...
- De que mais precisaria?
Se tenho sonhares plenos;
E meu mundo - bem pequeno -
é de tão grande valhia.
Tenho a fé e tenho o barro...
- Nada mais posso pedir!
Embora, o algo que busco
tenha voado de susto,
sem aviso de partir.
Tenho a fé e tenho o barro,
pra cuidar toda amplidão!
...Um vazio de metro e tanto,
relembrando o mesmo canto
que me fez ser solidão.
Tenho a fé e tenho o barro...
- Desejar mais é pecado?
Pra um cantador sem guitarra,
que - em melodias - se agarra
no próprio bico afiado.
Tenho a fé e tenho o barro...
Mas, quisera cantar mais!
E nesta tremenda luta,
saber se ela me escuta
e sonha cantos iguais.
Tenho a fé e tenho o barro...
Tudo aqui ao meu redor!
Mas, por falta de carinho,
me tocou viver sozinho.
- Dos males, será o menor?
Tenho a fé e tenho o barro...
E um par de asas abertas
que ruflam, como escondendo
alguém que canta sofrendo
por uma mirada incerta.
Tenho a fé por protetora,
pra o barro não ir ao chão.
Pois, meu único pertence
é este rancho que vence
chuva e sol pelo rincão.
Tenho a fé e tenho o barro...
- O rancho não sucumbiu!
Mas tremeu junto comigo,
quando não deu mais abrigo
pra “Barreira” que partiu.
Tenho a fé e tenho o barro...
Onde ainda canto baixinho;
Pensando nas horas vagas
se aquela "linda emplumada"
tem achego em outro ninho.
Tenho a fé e tenho o barro...
- Vez por outra, milongueiro!
Assim espanto as tristezas,
assoviando as mágoas presas
pra algum ranchito lindeiro.
Tenho a fé e tenho o barro
bem de “fronte” ao corredor...
E mesmo tendo este tanto,
peno a ausência do encanto
que levou de tiro o amor.
Tenho o barro na morada
quinchada pela ilusão...
E quando a chuva ela escora,
até parece que chora
por meu destino de “João”.
Tenho a fé junto do peito,
amargo por este pranto...
- Cicatriz, a vida ensina:
Quando fecha, vira rima
pra dar razão à outro canto!