O ESPÍRITO INCESSANTE QUE HÁ NA ALMA DOS POETAS

O espírito incessante

que há na alma dos poetas,

voa livre nos caminhos,

pelos rumos que escolheu.

É testemunha confesso

dos resquícios da saudade.

Pois, sem ela é só metade

diante à tudo que viveu.

Nasceu num ciclo passado,

de genuína bendição.

Fomentando a propria sina

por sobre os passos do bem.

Igual à ele, é o homem

que livra as cismas do peito

quando se espelha no jeito

do bom exemplo de alguém.

Foi conhecendo as distâncias

- seus encantos e vilezas -

tomando forma robusta

junto à alma (aonde habita).

E revelou seu idioma

num silêncio inesperado,

quando, enfim, foi batizado

por entre as linhas da escrita.

Daí, comungou da reza

mais pura destes lugares.

Provando a fusão perfeita,

deixando de ser disperso.

Contou seu primeiro fato

numa experiência concreta.

E viu-se preso ao poeta

depois de findar o verso!

O espírito incessante

que há na alma dos poetas,

soube de amores e juras

que até nem pôde rimar.

Mas guardou junto consigo,

mil segredos e desejos;

Pois se o poema é um beijo,

terá sempre à quem amar!

Visitou tantas ausências,

dores, lamúrias e penas.

Como a cura disfarçada

às chagas da solidão.

Por ser espírito vivo,

não padece às incertezas;

E é a vela - sempre acesa -

no escuro do coração.

O espírito incessante

que há na alma dos poetas

existe neste infinito,

muito além do nosso olhar.

É um horizonte distante,

entre as lonjuras postado;

Onde só de olhos fechados,

conseguimos o enxergar.

Sofre, igual à toda gente

destes campos e rincões;

No breu das imensidões

se refugia e lamenta.

Talvez por isso que o céu

depois de largas demoras,

acompanhando quem chora,

desabe em tom de tormenta

Mas - logo - renova o viço,

varre ciscos de ressábios.

E volta, diante dos lábios,

sonolento em noite quieta.

Até que ganhe motivos

de sorrir e ser do mundo,

compondo o verso fecundo

que dá bom dia ao poeta!

Este espírito nativo,

- gêmeo do vento e da terra -

em qualquer sonho se aferra

com constante sintonia.

Dá forças ante o fracasso,

traz esperança ao descaso.

Pois viver um algo raso,

ao homem, não tem valia.

Não teme a sombra da morte,

afinal, se fez eterno.

Poncho grosso dos invernos...

...Sombra, se o verão judia -

Guarda o feitiço indelével,

claro e certeiro o bastante

para pôr vida pulsante

numa caneta vazia.

Já cruzou porteiras tantas,

sem mesmo pedir “permisso”,

carregando o compromisso

de vigiar estes confins.

Do meu rancho sem vaidade,

sabe todos os atalhos;

E nenhum caminho é falho

pra que ele chegue até mim.

Quanto me alegra a visita!

Quanto o aguardo, pensando!

...Por onde estará rondando,

que até estranho a demora.

Mas quando chega, traz junto

tamanha paz e bondade,

que dele sinto saudade

antes mesmo de ir embora.

E os muitos que não o vêem

- pobres de aura e humildade -

definham sob a vaidade

que os guia e os dá a mão.

Desconhecem toda sorte

de ter na essência terrunha

aquilo que a gente alcunha

de luz ou inspiração.

Por isso que pra o meu filho,

além de um futuro pleno,

caráter justo e sereno

- bençãos que a sina arquiteta -

eu hei de pedir à Deus

que lhe conceda o bastante,

e o espírito incessante

que há na alma dos poetas!