RIBEIRÃO
Ribeirão da minha infância
que corria sem parar,
sei que um dia a ganância
talvez te faça secar.
Se acabar tua exuberância,
sempre terás um lugar
em que nenhuma intolerância
vai contigo acabar.
Ribeirão fazia aguada
para os bichos e toda a gente
que chegava na beirada
pra beber água corrente.
Só assustava a chuvarada
quando trazia enchente,
que vinha na madrugada
e corria inclemente.
Ribeirão das brincadeiras
das crianças em algazarra,
das mulheres lavadeiras
que não vinham para farra.
Daqueles que em suas beiras
se soltavam das amarras
da vida, que traz canseira,
e a tua água desgarra.
Enquanto podes, ribeirão.
corre nesse leito teu
que cavaste pelo chão.
Corre em quem te bebeu,
corre sempre, bonachão.
Teu curso nunca morreu,
corria em meu coração
e poesia dele escorreu.