OLHOS DE ANZOL
No esquecido sertão,
noite de prata pouca
é o céu se desluando,
lua nova se chegando.
A coragem fica rouca
em quem viaja de alazão.
Na grossa escuridão
todo caminho é soturno.
Não sobrou nem um vintém
da prata que da lua vem
quando o sol acaba o turno
e some em céu vermelhão.
Em calada solidão,
pela noite se aventura,
segue adiante o peregrino.
Aceitando o que o destino
lhe dispõe por água pura
mas que sombreia o coração.
Pede em muda oração
para a noite ir embora,
para vir depressa a luz
que pela vida o conduz
e faz tempo ele namora
e implora esse clarão.
Que venha a benção
de que com a luz do sol,
também chegue a moça bela
que fisgou ele pra ela,
com seus olhos de anzol,
na mais santa perdição.