Tambores de São Luís

Envolto na história

nos quatro cantos da Ilha do Maranhão

o passado se repete

com mais exatidão.

Damião conta a história

com lembranças fortes

de uma época nobre

de uma época triste

época da ingratidão

época do racismo

submisso era o negro ao seu senhor

assim eram os idos de 1830 no Maranhão.

Da mãe África para o navio negreiro

em direção do Brasil

navio este

navio da morte

cheiro da morte

morte toda nele

e chegaram a Turiaçu

pequena cidade do interior

diretamente foram pra fazenda

os irmãos negros

para trabalharem debaixo da chibata dos senhores

tristeza

muita tristeza

chibata e chibata

a lei da chibata.

essa lei ingrata.

Certo dia

vindo da ilha do amor

que nessa época não tinha nada de amor

apenas dor e dor

chegou a convite do fazendeiro

o bispo e um padre

o padre, mulato.

Damião tentou de várias maneiras

a conversar com o bispo

queria ser padre em São Luís

mais ser padre negro não tinha nenhum

isso era um tabu

naqueles anos oitocentistas no Maranhão.

Damião consegue conversar com o bispo

e ele prometeu falar com o fazendeiro.

o fazendeiro fariseu e dominador

disse que não

e o bispo foi embora sem dá a noticia a Damião.

Damião apanhou e quase morria

foi trancado numa casinha sem água e nem comida

posto que o fazendeiro soube

que a filha estava grávida

do pobre do Damião

mais não era verdade

posto que a filha do fazendeiro

uma pobre coitada

estava louca de dó

uma tristeza só

mais isso não convenceu o fazendeiro

que lascou a chibata na costa do negro

pobre Damião

pobre irmão.

No momento em que o fazendeiro batia em Damião

o fazendeiro passou mal e morreu

Damião só soube do acontecido

por um amigo seu.

A sinhá velha, mãe do fazendeiro

mandou Damião ir embora

e ele seguiu rumo a São Luís

alegre como um passarinho brejeiro.

Chegando em São Luís ele foi falar com o bispo

que lhe deu abrigo

e enquanto isso

ele chegou a fazer o seminário

mais perto de se formar

proibiram ele de usar a batina

pobre Damião

pobre Damião

disseram que não queriam um negro

a rezar missa em São Luís do Maranhão.

Quantas injustiças

que soubemos acontecer nesses idos dos 1800

uma atrás da outra

tristeza e tristeza.

Damião como sabia latim

conseguiu ser professor do Liceu

graças ao bispo e ao padre Policarpo, o padre mulato, amigo seu.

Mais depois de um dia em que ia declamando sobre as atrocidades

que aconteciam aos seus companheiros, ele foi despedido, através das reclamações dos pais dos alunos que não queriam um negro os ensinando.

Tristeza, tristeza

pobre Damião

segue a sina

que a atormenta a sua natureza.

Damião sai do seminário, onde morava

e vai morar na casa da sua amiga

a Genoveva Pia, que morava, lá perto do Cais da Sagração

ela o ajuda, como uma mãe

até o dia em que Damião conhece a Aparecida

e desse conhecer

surge dois frutos queridos

e Damião consegue um novo trabalho

e segue o rumo além e além

no retumbe dos tambores de São Luís

diretamente da Casa das Minas

na rua de São Pantaleão, bairro da Madre Deus

perto do cemitério do Gavião

e Damião vai além

além

da história

e sem demora

vai em direção a casa da sua filha

onde seu trineto é esperado.

Damião, 80 anos de idade

segue pela em direção do bairro da Camboa

quer muito ver o trineto

e nos conta o final da história

na outra poesia que eu vos escrevo.

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 02/08/2019
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