Sonoridade

SONORIDADE

Este teu choro - pranto feliz dos caminhos -

pingando em mãos de quem te guarda companheira,

é o mesmo idioma que a terra tem na garganta

e sempre canta nas noites de lua inteira.

Cada botão, um ventre aberto à melodia

pra ser fecundo em alma branca ao tocador…

Juntando penas, suspiros, cisma e saudade

quando és metade pra o gancho do novo amor.

O teu cochilo - fole preso à cruz das horas -

benze o silêncio mais tardio da solidão.

E quando acordas, livra o mundo da vaidade

- sonoridade que me entorna o coração!

São tão antigas essas ânsias desmedidas

de já ser parte do teu corpo e teu instinto…

Ter-te em passagens - acredito - d’outras vidas

que estão perdidas naquilo que agora sinto.

Cheiras à ciúme frente ao olhar das guitarras…

E, ao mesmo tempo, com galhardia te afeitas.

Quão será pura a crença rude onde te agarras?

...que até nas farras, juras ser moça direita!

Todos os baixos - estrelas d’um céu amigo -

por onde os ventos fazem coro em voz trocada,

bebem do sumo mais crioulo e são castigo

à sede ingrata das tristezas extraviadas.

Então, cordeona… eu te bendigo na memória

num livro aberto ao testemunho do teu som.

Eu trago ausências pra curá-las de improviso,

quando preciso ser menor que este teu dom.