Liberdade

LIBERDADE

Este par de asas miúdas

- gigante pra quem as sente -

com destino diferente

rompe lonjuras do tempo.

...No rumo que o próprio vento

teimou em julgar pecado;

Como desdita e malgrado

de tamanho sentimento.

Tive a fé e tive o barro…

...na morada pacholenta.

- Rancho que a terra sustenta,

ante o sem fim destes anos

- Dez luas... (livre o engano!)

...já vão-se, desde a partida

da “barreirita” querida

d’algum feitiço mundano.

Eu que, outrora, milongueiro...

espantei mágoas do posto,

cantando em tom de desgosto

tremendas queixas doídas.

...Agora, de estada erguida

n’outro moirão de alambrado...

...reparo a cruz do passado

pesar - à míngua - na vida.

Ficou na morada antiga:

algum sonho em claridade,

que o destino, sem piedade,

sulcou na conta dos dias.

- E quando a manhã anuncia

razões de um silêncio pleno,

vejo o meu mundo pequeno

co’a mesma grande valia.

A quincha que foi ao chão

depois de geada e tormenta,

mais firme, se reinventa...

...e então, vem mostrar-me o dito;

Que este meu canto bendito

em lugar nenhum caberia:

n’outro rancho - moradia -

ou n’outro destino escrito.

E a doninha, que, emplumada

foi-se, de paixão, perdida;

Por onde andará, na vida,

se não penando o sentido

d’um posto querer florido

que lhe atiçava os trejeitos?

...Pois, em romance imperfeito,

não volta o que foi perdido.

Daqui, diviso as lonjuras,

diante ao silêncio do nada.

...Ouço os segredos da estrada,

e então, o choro do arreio

de algum cruzador que veio

penoso, no corredor;

De atrás do rastro da flor

depois de parar rodeio.

Chora o arreio na estrada...

...não chora mais este canto.

Já não existe o quebranto

que fez-me João por metade.

- Eu, cantador sem vaidade

na melodia que abrigo;

E ela, um poema antigo...

...escrito pela saudade.

(…)

“...Sempre, em trabalho dobrado,

segue o barreiro, rondando;

...Segue a ladina, esperando

qualquer contrária intenção.

Mas, muito embora, o rincão

os una pela saudade,

ser dono da liberdade

já basta pra’o pobre João.

Franca cicatriz fechada,

de um pesar que pouco existe!

Barreiro que canta triste

não vive de alma serena!

Por isso, a sina terrena

sempre traz um novo afago

pra todo coração vago

que o desamor envenena.”

(…)

Quando a fé, benzendo o peito,

curou tamanha ferida,

meu rancho - borda caída -

não cansou de retornar.

...E o feitiço do lugar

espalha o canto que instigo,

como o mais torvo castigo

à quem desfaz de escutar.

...Tive o barro, bem postado

no rancherio de outra era,

que findará por tapera,

ruído pela verdade:

- Para a “barreirita” é tarde

desfazer rumos errantes...

E eu creio como o bastante,

ser dono da liberdade!