Lá no meu sertão
(Dedico à Guerreira Lilith, a mulher que desafiou Deus e colocou Adão
pra lavar os pratos e que, apesar de ter sido um dia a manda-chuva do Paraíso, desconhece o simbolismo da fulô de açucena.)
Do lugar de onde vim
Não passa boi,
Não passa boiada
Nas estradas
Que não levam
A lugar nenhum.
Tem o horizonte carmim
Do dia curtido no Sol
E as noites enluaradas
Embaladas na solidão.
Não é a Terra do Nunca.
Ela existe e dou fé,
E os homens de pele curtida
Desafiam o perigo:
Amansam burro brabo,
Pegam o touro a unha,
Mamam no peito da onça.
Carregam cupido no coração
E a timidez na alma.
“Eu te amo” ou “I love you”
São palavras de filmes
Exibidos na parede da igreja.
Declaram-se timidamente
Com uma flor de açucena
Roubada no matagal.
E elas, não contendo o orgulho
Guardam no coração
Como a mais cândida
E singela declaração de amor,
Porque elas sabem
Que a flor de açucena
É a flor do bem-querer.
E você, minha amada,
Que pegou esporas e sela
E domou este vaqueiro,
É a minha flor de açucena
O meu único bem-querer
E hei de amar-te até morrer.