umbuzeiro
calor de quarenta graus
viajantes suarentos
a estrada reta
em meio à imensa planura
cercada de vasto nada
vazio do grande sertão
e então o casebre de barro
amassado entre as varas trançadas
mal se distinguem as palhas do teto
nuas paredes do mesmo tom
da argila do solo marrom
só o verde da arvoreta
verte vida em tão ermo rincão
e a velha vem espiar
esses incautos passantes
a ousar sob o sol escaldante
por certo ainda não sabem
a malfadada fama
de ressequir estrangeiros
que carrega este lugar
mas a conversa vai fácil
de onde vêm, para onde vão
e o que fazes aqui largada
no meio deste sertão
e qual seria tua parada
não fosse eu aqui neste chão
e a arvoreta sombreia
a seca conversação
cobre certa em frente à palhoça
a tábua que vai de assento
até que os olhos desatentos
dão com os pequenos frutos
amarelos, suculentos
a festa que se seguiu
só mesmo em tal fim de brasil
os frutos de sumo agridoce
generosos saciando a sede
tanta aspereza em volta
contrastando a brandura
sorriso resgata a velha
restante dos retirantes
feliz com a felicidade
dos desavisados viajantes
Publicado no livro "cio do século" (2011).