MARIA BUNITA
MARIA. BUNITA
Teu corpo moiado cheira,
A fulo di maracujá;
Tua vois é musga bunita,
Nos meu ovido a assobia.
As brancura da zoropa,
A vosmice não si compara;
Teu corpu que mi sacia,
É licor di fonti rara.
Nem mesmo noutro praneta,
Existi fermusura assim;
Muié que meus zoio atenta,
Quando oia para mim.
Pode vi toda as tropa,
Do Oiapoque ao chui;
Que eu enfrento em campo aberto,
Pra não me afasta di ti.
Pra te teu amo quirida,
Enfrento qualque puliça;
Pra tê os carinho dela,
Não temu nem a justiça.
Pra ficar sempre com ela
Não temo ezerço ou marinha,
Eu quero ficar aom ela,
Sou dela a erva daninha.
Pode vi todo o quarté,
Todo o batião navá;
Toda a força puliciá,
Que não te deixu rainha.
A denguice da tua vois,
Sempre é musga bunita;
Mas a maió maravilha,
E este amô que em mim palpita.
Teus lábio de me, tua boca,
Tem frecô de água pura;
E teu beijo minha cabocra,
Afasta a sede, dá frescura.
Me zamgo se não ti tenho,
Pois o meu amo manero;
É bomba pronta a explodi,
Pur cima du mundo intero.
Se falam que não te quero,
É istoria pra boi drumi;
Nas tua ausência ti espero,
Nunca amo eu ti trai.
O meu pecado morta,
Será si pra ti minti;
Mas fala que não ti quero,
E cunvesa pra boi drumi.
Se to contigo sossego,
Fico meigo igua cabrita;
Assosegado nas relva,
Deste teu corpu bunito.
Teu corpu que mi enfeitiça,
É brabuleta du campu;
Meus zoio que ti cúbica,
Longi di ti e só prantu
Tua beleza ep tão grandi,
Que nenhum pueta exprica;
Brabuleta du meu campu,
Fingindo que mi intica.
Sô cabocro disassombradu,
Não temu as treiçao du distino;
Com fulo du campu a meu ladu,
Pareço inté um menino.
Eu levo tudo na cheta,
E não temo judiação;
Nem demoniu eu temo não,
Pois tenho minha brabuleta.
Nus exerciu du amo,
Não canssu di navega;
Num má de tanta frescura,
Vontade di sacia.
Mato a sede nus teus beiju,
Boca di maracujá;
Rainha dus meu deseju,
Da terra e também du má.
Sô forte nu meu cansaçu,
Afasto quarqué priguiça;
Quando to neste teus braço,
De fermusura e conquista.
As marvadeza du mundu,
Sorri com tua presença;
Se sô bandido um sigundu,
Tua fermusura compença.
Muié braba que nem diacho,
Mais doci qui pão di lo;
Sem teus amo não mi acho,
Sem vosmice eu so sò
Eu posso trava bataia,
Qui ninguém vai separa;
O meu zoio du teu trigo,
Minha sonbra de marica.
Meu amo so teu escravu,
Pois vosmice é rainha,
Tua fulo e toda minha,
Deusa desti meus encantu.
Muié qui me faz ter prantu,
Vem e vamus vadia;
A lua pur tistimunha,
No céu azur a brilha.
Depois o meu peitu em festa,
Ti fará uma canção;
Pois você doce Maria,
É dona do meu coração.
*J.L.BORGES