PORTAIS DA CASA DE AMÉRICA
(para Perpétua Flores(1), borboleta da Casa de América)
Quando setembro, nos anéis das estações,
desenha flores na cara da Pampa,
quando o Brasil austral deste Rio Grande
despede o frio que veleja sobre o Guaíba,
coroa-se a natureza com chapéus de cinzas
instalados sobre as encostas, cumes e dorsos,
delineando espíritos em escarpas de nuvens.
Quando emigram da Patagônia os pássaros,
asas de fogo entanguidas de frio,
quando os bordões de humanidades
de Gabriela, Borges e Neruda
afastam as pedras dos caminhos,
bem-me-queres perfilham planície e altiplano.
Quando madressilvas e cerejeiras
vestem roupa nova na velha Rua do Arvoredo,
estampando alegrias e alegrias
nos portais do celeiro de Cláudio Mércio(2),
adentram em conjunto revoadas de sonhos
e espectros visionários voltam
à fonte da vida para trocar a plumagem.
(dentre os pássaros em migração voeja
– resoluta –
a borboleta de Santo Ângelo)
E na casa, vestida de América, arrulhos ressoam
como se o tempo houvesse parado,
implantando na cara das criaturas,
a seiva do cerne da Pampa,
sementes e orvalhos
trazidos no bico de pássaros.
(1) Poeta, pesquisadora, crítica literária e radialista nascida em Santo Ângelo, região das Missões Rio-Grandenses, residente há mais de 40 anos, em Buenos Aires, Argentina.
(2) Poeta gaúcho, falecido na década de 1980, em cuja casa aconteciam, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul/ Brasil, interessantes reuniões da comunidade associativo-literária, no final da década de 70, séc. XX.
– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 1978/16.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/646993