NATUREZA MORTA
Hoje no meu sertão
Acabou-se a alegria
Não se vê mais hoje em dia
O que se via antigamente
Do homem nada escapa
Tudo sumiu do mapa
Bem aqui na nossa frente
Não vejo mais a garrincha
Que tanto cantarolava
O bem-te-vi que cantava
O sirino e o sofrer
Onde estão eles agora?
Será que foram embora
Ou deixaram de viver?
Onde está a juriti
Também a fogo-pagou
O azulão cantador
Pica-pau e cava-chão
Ai que saudade que tenho
Do saudoso desempenho
Do lindo cata-pilão
A bizunga beija-flor
Como era conhecida
Beijando as margaridas
No pomar do meu quintal
Só ainda não sumiu
O que chamamos de guiu
O verdadeiro pardal
O gavião do pé de serra
O petisco e a cauã
Que cantavam de manhã
Nos mas lindos madrugais
Já sumiram do sertão
O homem sem coração
Comeu de forma voraz
Onde está a garça branca
O marreco e o cariri?
A zabelê que não vi
O canto da saracura?
Com a natureza morrendo
O homem é que está perdendo
E vivendo em noite escura
O sabiá cantador
O preá e o tatu
O porco-espinho caititu
A raposa e a sussarana
Estão perto do seu fim
E o pobre do guachinim
Nunca mais comeu banana
A codorna piriri
a perdiz e o nhambu
O negro e lento anum
Que com preguiça voava
Me lembro do cardeal
Que vinha pro meu quintal
Abria o bico e cantava
Hoje só resta saudade
De tudo que era bom
Por não ouvir mais o som
Da natureza cantar
Deixo aqui minha cobrança
Pois acabou a esperança
De tudo recomeçar.