MARRANO II
Lá no céu o luar já vai alto,
E o caiado desbotado da casa de grossas paredes,
Diz em suas manchas infantis, que lá há estórias, vidas...
Escanchado na porta da casa, no topo do serrote,
Dá para ver lá embaixo o gado sonolento,
Bebendo uns goles de água lamacenta na várzea agonizante,
Se acomodando para dormir,
Anunciando o descanso do vaqueiro...
Na cozinha o fogão a lenha lambe voraz a velha panela de ferro,
Enegrecida pelo braseiro de pau de angico,
Espalhando pela casa o cheiro do feijão macaça e do arroz vermelho e da charque,
É baião de dois!
O cheiro gostoso rondando a casa,
Causa agonia na venta da criançada,
E até o cachorro magro,
Encontra forças para abanar o rabo,
Fazendo agrado para o patrão,
Querendo baião também...
Na sala o vaqueiro moço-véio,
Deposita num canto da casa,
O alforge, a algibeira e o gibão,
E jaz desmantelado da lida do dia,
E pita seu cigarro de palha, seu brejeiro,
Pintando a sala de um azul triste...
Feliz...
Pela janela escancarada da frente da casa,
Entra o luzeiro da lua e o frescor do Aracati,
Que em açoite entra pela casa,
E dá vida a rede do vô, vazia...
Dizendo assombrosamente, Fuuuiii...
Na varanda da casa,
As cadeiras de balanço, tamboretes e redes vão se ajuntando,
E pouco a pouco os vizinhos vão se chegando,
Surgindo do meio da escuridão...
Cada um que conte um causo, cada um que tenha razão...
No terreiro, no oitão e no quintal,
A coisa é mais simples,
A criançada brinca de cegar a vista de todo mundo,
De bucho cheio de baião de dois,
Num brincar bruto, de pancadaria,
Previsão da vida de homem do sertão...