Exílio do Sertão*
Minha terra não tem palmeiras
Mas o sabiá canta lá
Canta bem nas laranjeiras
E gorjeia como cá
Minha terra tem juazeiros
Onde comem os jacus
São verdes como as palmeiras
Belos como pés de umbu
Sob eles se encontram
Casas de pebas e tatus
Ficam verdes o ano todo
Destoando do cinzento
Meio triste, avarento
Da nossa mata dormente
Minha terra tem baraúnas e aroeiras
Onde cantam os cabeçudos
De um canto tão bonito
Que cabra de peia safado
Arma-se com um alçapão
Para prender em gaiola
Como fosse um camburão
Minha terra tem marmeleiros
Com semente de montão
Que atraem os avoantes
Quando cai chuva no chão
Espantados por uns brutos
De cartucheira na mão
Se na seca tudo seca
Deixando tudo cinzento
Basta cair uma gota
No nosso solo sedento
Que o verde logo rebrota
Acabando o desalento
Volta fartura e riqueza
O sertão renova-se, opulento.
*Interconexão com Canção do Exílio de Gonçalves Dias.
(07/08/2013)