O ÚLTIMO REVOLUCIONÁRIO

Resbalava nos prédios o eco compassado do trote cansado

Sobre o asfalto da grande Avenida o tinido do bate-cascos

Avistou-se de longe a figura de um vivente de modos toscos

Montado num chucro que arrastava as rédeas, por mal encilhado.

Índio velho fronteiriço, dos confins de Uruguaiana

Trazia estampada nos modos e na pilcha a sina aragana

Trajado de bombacha, bota, espora, chapéu e mango

E no lenço branco, embandeirada, a saga de um chimango.

Em frente ao bolicho, boleou a perna e pediu um trago

Deixou lá fora entre os carros, esperando encilhado, o matungo

Lançou um olhar de soslaio, meio tímido, meio desconfiado

Ressabiado do povaréu que o mirava boquiaberto e assombrado.

Olhou em volta, pigarreou, e num jeitão meio chulo falou:

“Buenas! Meu nome é Bento Eleutério das bandas das Sesmarias

Venho de muitas léguas, atravessando pagos, já há dias.

Preciso arriar meus trastes, aliviar a encilha do bicho

Um pelego pra recostar o lombo e uma iguaria pra forrar o bucho.

Não quero causar reboliço, parto amanhã cedo à la cria

Antes que reponte o sol pelos cerros já estarei em Santa Maria.”

O bolicheiro prontamente o atendeu sem fazer interrogatório

Reconheceu pelo porte e pelos modos, o último dos revolucionários.

Quando a cidade amanheceu no outro dia

Ninguém sabia dizer ao certo

Se a passagem daquele guapo foi apenas aparição

Ou se tinha ocorrido de fato.