Cacupé
O sol desceu apressado
O céu parece sangrar
Numa divina aquarela
Que faz a gente sonhar.
O mar apenas sussurra
Vazia dança a canoa
Com a gaivota solitária
Que veio pousar na proa.
Voa a garça como a alma
De um poeta a se perder
Um peixe salta das águas
Pra ver o dia morrer.
Sobre as ondas refletida
Já se embala docemente
A estrela recém nascida
No rumo do continente.
Acendem luzeiros distantes
Bordando o mar e o manto
Da noite que vem vestida
De magia e de encanto.
Dum feiticeiro o vulto
Surgido à luz da lua
Vem celebrar um culto
Na praia que já foi sua.
Entre os ramos da aroeira
Se repetem como mantra
Em linguajar esquecido
Lamentos da ave insone
Pelo paraíso destruído.
Acioly Netto - www.guiadiscover.com