SATURNINO...1ª PARTE - NEM SEMPRE A BOA É BEM VINDA...
Saturnino
Era um homem de coragem
Ideal não lhe faltava
Mas nas mãos, só a bagagem
E na “Terra da Garoa”
Com sua amásia chegava
_Ah, lugar grande e corrido
...Um pouco também poluído
...E parece tão sofrido!
_Mas, o que é aquilo, meu Deus!
...Um cara de arma na mão!
...É Militar ou Civil?
...Mas pêra aí...Um fuzil!
E a poucos passos dali
Um barulho de rojão
Depois, três homens caídos
Sangue e tristeza no chão
Saturnino abismado
Pegou na mão da amásia
Escorou-se em um batente
E foi aí que de repente
Viu sua mala sumir
E todo o seu mundo ruir
Viu também na multidão
Um cara a sinalizar
Era o Tio de Saturnino
Que desde o tempo de menino
Estavam sem se falar
Só nas fotos...Só no olhar
E só as lágrimas a dizer
O resto, sabiam não...Nem ler e nem escrever
Naquele instante momento
Onde tudo era tormento
A vida quase sorriu
Arrastou-se, esfregou-se
Só escutou “Vai Pra Merda”
E pra “Puta que o Pariu”
Mas nada o impedira
De um reencontro anormal
Ah, meu Sobrinho...Ah, meu Tio
Jaziam as águas de março
Vida nova, mês de abril
_Meu Sobrinho Saturnino
...Vamos embora daqui
...Não ligue para o que viu
...Por aqui isso é normal...
Era o seu Tio lhe explicando
Que lá mesmo perto de casa
Tinha muito marginal
O Tio se chamava José
Igual a muitos conterrâneos
Suava numa empreiteira
De um homem rico, mas bom
Seu sobrenome, Oliveira
E foi mais tarde na prosa
Que com ele foi falar
Apresentar Saturnino
E um emprego lhe arrumar
Instalado na maloca...Na estranha região
Saturnino e a amásia
Recebidos com alegria
Caíram na oração
Pediram a Deus por ajuda
Disseram que iam pagar
Rezar terço todo dia
E um ao outro respeitar
Pediram até uma mala
E até umas roupas também
Pois caso desse na telha
Abandonariam o sonho
E voltariam sem desdém
O nome da amásia...Ceição
Mulher morena e bonita
Que recebeu de soslaio
O olhar da nega do Zé
Ali, ficaria no ar
Intriga e desconfiança
Pois cada agachada que dava
Ceição
Hum, safadinha
Deixava ver a calcinha
E homens loucos de Tesão
Tião, vizinho do lado
Homem cheio de moral
Traficava para o bairro
Drogas e Tênis de marca
Vídeo e TV Digital
Acompanhando a conversa
Debruçado pelo muro
Arregalou os seus olhos
Na cena que ele viu
Que calcinha, que mulher
Que momento sexual
Correu pra dentro de casa
Tratou de por um Forró
Fez batida de limão
Pulou num só salto o muro
E cumprimentou Saturnino
E olhou por inteiro Ceição
E pensou que até janeiro
Seria dele a gostosa
Pegou na mão da princesa
E arrebentou numa prosa
Uma pausa virtual...Pra uma comparação fazer
Saturnino era franzino
E um pouco doente também
Ainda dava no coro
Era uma vez por semana
E o resto só mês que vem
Tião, homem sarado
Lutava luta de rua
Quebrava pedra na mão
Com ele não tinha choro
Ah, e se dava no coro?
Daqui pro final da história
Pergunta pra tal Ceição
Uma noite de calor
Outros tiros de rojão
Tava jogando o Corinthians
O outro time eu não sei
Só sei que naquela noite
Tião meio afobado
Chamou de canto o Zé
Lhe pediu uma toalha
Limpou um pouco de sangue
Deu sumiço na mortalha
E calou o resto da gangue
E então gritou...Saturnino
_Venha cá o seu menino
...Tua sorte já mudou
...Preciso de faxineira
...Não é muito o serviço não
...Mas já que somos amigos
...Vou empregar a Ceição.
Saturnino emocionado
Com a onda de milagres
Quase beijou Tião
Ainda bem que foi quase
Senão ali Saturnino
Distinguiria o barulho
Do que era tiro e rojão