O jeito certo
Palavras por si sós não fazem belas poesias
A beleza está na forma de esparrodá-las
Do mesmo jeito
que se joga milho pras galinhas
ou se salpica muda de salsinha nos canteiros...
É preciso jeito
Nenhuma poesia brota de uma tarefa mal feita
com palavras arremessadas
a torto e a direito sobre o papel
Depende da combinação,
ritmo e som que se escolhe
Da mesma forma, nenhuma beleza se colhe
de flores em volta da casa, no jardim, nas cercas
sem respeito ao sol, à sombra, ao solo
Todo encanto exige paciência
Há ciência pra se esparrodar
chuchu, rosa branca, maracujá
Não é qualquer plantação que vinga
córrego abaixo, morro acima, estrada afora
Só há poesia se as palavras e as coisas
são tratadas sem pressa
E é sem pressa que se põe
canela no arroz doce
pedaços de queijo na broa
comida no prato
torresmo na travessa
Poesia não floresce a esmo
Guardam segredos as mãos
que esparrodam palavras ...
e quadros de santo na parede
folhagens nos cantos da casa
Rouge no rosto, batom nos lábios
enfeites no corpo e nos cabelos
Quando as coisas não são feitas com gosto
a beleza cai em agonia
e um a um vão morrendo os dias.