O jeito certo

Palavras por si sós não fazem belas poesias

A beleza está na forma de esparrodá-las

Do mesmo jeito

que se joga milho pras galinhas

ou se salpica muda de salsinha nos canteiros...

É preciso jeito

Nenhuma poesia brota de uma tarefa mal feita

com palavras arremessadas

a torto e a direito sobre o papel

Depende da combinação,

ritmo e som que se escolhe

Da mesma forma, nenhuma beleza se colhe

de flores em volta da casa, no jardim, nas cercas

sem respeito ao sol, à sombra, ao solo

Todo encanto exige paciência

Há ciência pra se esparrodar

chuchu, rosa branca, maracujá

Não é qualquer plantação que vinga

córrego abaixo, morro acima, estrada afora

Só há poesia se as palavras e as coisas

são tratadas sem pressa

E é sem pressa que se põe

canela no arroz doce

pedaços de queijo na broa

comida no prato

torresmo na travessa

Poesia não floresce a esmo

Guardam segredos as mãos

que esparrodam palavras ...

e quadros de santo na parede

folhagens nos cantos da casa

Rouge no rosto, batom nos lábios

enfeites no corpo e nos cabelos

Quando as coisas não são feitas com gosto

a beleza cai em agonia

e um a um vão morrendo os dias.

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 10/04/2016
Reeditado em 17/08/2019
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