A castanha do Pará
BERTHOLÉIA EXCELSA
Da família das lecitidáceas,
Ela tem porte garboso;
Nomearam-na “Bertholéia excelsa”,
Quiçá pelo seu caule frondoso;
Gosta da densa floresta,
Mas se dá bem no cerrado.
Projeta-se altaneira para o céu,
Parecendo ascender as nuvens;
Sua copa, rompendo o véu,
Busca esconder seus frutos,
Que se colhem a granel,
Cuja venda dá bons lucros;
Não com pouco suor,
Ainda que se dê no inverno;
Aquele que homem não for,
Não se meta a castanheiro;
Nem busque o facão por,
Muito menos o paneiro.
Não é preciso ser muito forte
Para exercer esse ofício,
Mas precisa ter cangote
Pra carregar muitos ouriços;
Aquele que não levar sorte,
Em perder a cabeça tem risco.
Pois ela sapeca do alto
Sem aviso que for,
A não ser pelo fato
De estar novamente em flor;
É preciso aguçar o olfato
E sentir o seu odor.
Aguçar ainda o ouvido
Pro som do “pu” ou do “pô”,
Pra saber quem está caindo,
Se o fruto ou se a flor;
Atentar bem no caminho,
Pois quem isso não fez, cobra picou.
Tem amêndoas bem protegidas
Por côco duro e lenhoso,
Cujo toque-toque inconfundível
Revela o fruto gostoso;
Comê-la crua, é preferível;
Esse é o costume do povo.
Ela é bem nutritiva,
Mas é bom não exagerar;
Comê-la com farinha,
Sabor melhor, dizem, não há.
Quem sofrer do intestino,
É bom mesmo se cuidar.
Ela dá todo ano;
Um mais, outro menos.
Antes não tinha dono,
Agora não falta mesmo
Quem queira terreno
Que castanheira tenha.
Tentaram seu nome mudar
Chamando-a de castanha-maranhão.
Mas não é difícil provar,
Que só dá aqui neste torrão;
Do Brasil ou do Pará,
São nomes pra exportação.
Já lhe misturaram a bessa,
E a comem de muitas formas;
No mingau e no beiju peteca,
No jaboti e com tapioca;
Que moleque sapeca
Não sabe quebrá-la na porta?
Ela é muita disputada
Pela paca, cutia e macaco;
Pelo tucano e pelo queixada,
E outros bichos do mato.
Para os países de bandeira encarnada
Exportam-se às toneladas.
Muitos são os ricos
Que vivem à sua custa;
E talvez por isso
O pobre fica só com a cuia:
O invólucro, o ouriço;
Seu ganho vai pras cucuias.
Sua parte é a menor
Em toda a empreitada;
Dele mesmo é: o suor,
A malária, e a perna picada.
Em todo caso, seja o que for,
Vende-a no hecto ou na caixa.
No hecto o nome já diz:
São cem litros;
Pro Casemiro ou p’ro Rita,
Ou pro Argemiro, filho do Zé Diniz;
Quem der o melhor preço,
Vende-lhes e também é freguês.
Oli Prestes
Missionário
(093) 99190-6406