BR 156 JARI

Belém, 21 de dezembro de 2015.



BR 156 Jari
lá vou eu pra um desconhecido
asfalto me dá coragem
mas sei que ali logo acaba
como acaba a ilusão
de um canto com pouco piche
alguém enganou alguém
será que também fiz parte disso?


BR 156 Jari
Deixei pra trás a capital sacaca
agora sou um desbravador
meio ranchinho, meio sertão
espero que o pneu esteja em dia
minha reza é pro freio
caso precise eu tenho um terço
caso precise tenho o Rio Preto


Jari BR 156
Do que era perto fiz despedida
agora é seguir em frente
do lado vem um japiim
xinga a mim que sou de fora
mas um bem-te-vi pede desculpa
"não é jeito nosso de tratar os viajantes"
pousou uma folha no carro
Lenço de uma lagoa gentil


Se um dia eu for devoto
farei a pé este caminho
pra provar pra mim que posso
Pode até não ser Compostela
mas é Amazônia
ai meu Deus!
é aqui Amazônia
ai meu Deus!
é estrada de sonhos
piçarrão
Poeira então
um caminhão


BR 156 Jari
do Maracá venceu a lama
venceu também o homem do ônibus
o Santanense que aliviou a todos
um galinho de árvore
uma flanela no ombro
Duas estátuas rei e rainha
servem os cansados migrantes


Se um dia eu for devoto
triunfarei sobre meus pecados
é só andar a esmo reto e sereno
Pode não ser Compostela
mas é Amazônia
ai meu Deus!
é aqui Amazônia
ai meu Deus!
é estrada de sonhos
ladeiras vão
direção
céu e chão


Jari 156
Lá do alto vejo o mundo
perde-se a vista mas não a fé
de campos lindos me sinto herói
com uma espada treinando o vento
não são búfalos que correm
mas pedras que espantam a todos
vem águas brancas do Cajari


Se um dia eu for beato
rezarei pra castanheira
que mande as forças do Criador
além do precioso tesouro
Posso não ser Santiago
mas sou Amazônia
ai meu Deus!
entretanto sou Amazônia
ai meu Deus!
sou estrada de sonhos
de canção
solidão
direção


enfim chegou o Jari
um rumo que quase se perdeu
não quero ditar a moral da história
que cada um peregrine de um jeito