<IA>Bom Jesus

Bom Jesus!

Centenários relicários

repousam agora calados,

mas guardam um passado vivo

mistérios emparedados

dos noturnos burburinhos.

Ainda, no ar, o ressoar

de gemidos estrépitos,

de perfumes e de sexo.

Em muitos ainda há lembranças

da luz que tingia em sangue

o azul enfumaçado dos cigarros baforados,

festas de homens e rapazelhos,

de espírito, embriagados...

Açougue dos prazeres,

clandestinos carnavais...

Em seus sobrados ainda há brados,

nos cochichos de pardais

ainda há contos embrulhados,

histórias de paparicos

nos venéreos carrosséis.

Antigo Recife de mortos corais,

Rua do Bom Jesus,

cemitério de bordéis,

de inhacas impregnadas,

vestígios de devaneios,

de orgias e devassidões.

Almas de putas e de gigolôs,

também donas de pensão

rondam os soturnos trilhos

perdidos, caçam apetrechos

que os tragam reencarnação.