Chaleira Preta.

CHALEIRA PRETA

É velha, a chaleira preto

Até nem sei a idade

Foi feita lá na cidade

A muitos anos atrais

Mais velha que os meus pais

Pertenceu a minha vó

Um dia vi, fiquei com dó

Ninguém lhe queria mais.

Ao passar pela tapera

Entrei num rancho abandonado

Me arrepiei emocionado

Pois ali eu vi jogada

A talha de barro, quebrada

Sobre um leito de carreta

E ao lado a chaleira preta

Já bastante enferrujada.

Também tinha um banco velho

Que veio bem a calhar

Me sentei a relembrar

Que ali era a cozinha

Onde a vovó já velhinha

Sempre humilde e companheira

Tirava água da chaleira

Usando uma canéquinha.

Então eu voltei no tempo

E mergulhei no passado

Meu coração compassado

Devia ser ansiedade

Lembrando a felicidade

Dos tempos bons de outróra

Tempos que se foram embora

Deixando muita saudade.

Dei de mão na velha alça

Embaixo de uma peneira

Tava cheia de sujeira

E pena de passarinho

Pôr certo algum filhótinho

Hoje canta a sua maneira

Agradecendo a chaleira

Que serviu até de ninho.

Com uns galhos de vassoura

Dei a primeira limpada

Vi que não tava furada

Isso me deixou contente

Então pensei novamente

Porque deixam atirada

Coisa que era tão zelada

cobiça de muita gente.

Não hesitei nem um pouco

Trouxe a chaleira comigo

Um objeto antigo

Mas que hoje é muito usada

Quanta água esquentada

Pras rodas de chimarrão

Conservando a tradição

Anda sempre encarvoada.

Na Semana Farroupilha

Ronda crioula no C. T. G.

Dava gosto de te vê

Sobre o fogão de rabicho

Tu que quase foi pro lixo

Tá dando a volta pôr cima

Alimentando esta rima

Que eu faço com capricho.

Fest-cana tudo de novo

Acampamento montado

O povo entusiasmado

Na barraca instala

Eu ali com peonada

Na roda de chimarrão

E tu chiando ao fogão

Mas sem reclamar de nada.

Terminou a festa, encarvoada

Mas muita água esquentou

Pois logo te amadrinhou

Com aquele velho fogão

Formou dupla com o tição

Trio com o barro e o tijolo

Do velho fogão criolo

Relíquia do meu rincão.

De volta em casa a chaleira

Ta sempre sobre o fogão

Água pro meu chimarrão

Ali tenho em quantia

Fica quente quando chia

Se a tampa estiver aberta

Teu chiado se completa

Com a minha poesia.

Lembro o vovô e a vovó

Que partiram pro além

Eu sei que eles também

Para ti, davam valor

Hoje aproveitam o vapor

Que não vai subir a o léu

Pra chimarrear lá no céu

Junto de Deus nosso senhor.

Poeta Edgar
Enviado por Poeta Edgar em 24/11/2015
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