Recife em mim

Desbotado e soturno

deita o velho casario

no espelho d'água embaçado

do ainda vivo Cão sem plumas;

de tocaia, pela escotilha do tempo,

os olhos tristes do rio

testemunham a cidade;

ao som da serena noite

as cores d'Aurora bailam

iluminada nas águas

aos pés descalços das pontes.

O ontem é um rio que acolhe

seus mistérios submersos.

Histórias a exalar maresia,

pancadas que o peito açoita...

nas calçadas vazias

o vai e vem das lembranças

de andanças

que em minhas ruas um dia fiz.

Meu coração hoje é um beco

em constantes burburinhos,

e meus olhos este rio

num Recife que é, em mim,

um quadro de saudades

pintado de sombras e lama.