Tributo a Dias
Eu nasci além das palmeiras.
No meu lar não sei se ainda as tem.
Os amores que deixei, sucumbiram ao tempo.
- Onde canta o sabiá?
Num retiro qualquer,
Suspiros!
Pois no céu só agora os urubus reinam.
Minha terra está desolada.
Eu morro sufocado.
- Onde está meus lindos palmeirais?
Talvez transformaram-se em alguma casa,
Abrigando uma família humilde -
Pobre de espírito e a barriga rocando a fome de dias melhores.
As flores que deixei são agora pastos e capim.
As frutas suculentas do quintal
Custam o salário mínimo a dúzia.
Quem me dera agora deitar-me na rede,
Chupar aquela carambola e, quem sabe,
Escutar o canto do sabiá que tem certidão de nascimento.
Queria deitar à sombra
De uma palmeira
Que já quase não há.
- Que fizemos nós desta terra prometida?
A terra que mana leite e mel
É, na verdade, seca e miséria.
Já não há em nós a idolatria da pátria.
Perdemos a esperança nesta terra sofrida.
Nosso povo massacrado agarra-se a divindade.
Oh, Deus, não nos abandone!
Oh, Virgem e Santos, olhai por nós!
A humanidade foi-se junto com o sabiá.
E assim como ele, também está em extinção.