Tributo a Dias

Eu nasci além das palmeiras.

No meu lar não sei se ainda as tem.

Os amores que deixei, sucumbiram ao tempo.

- Onde canta o sabiá?

Num retiro qualquer,

Suspiros!

Pois no céu só agora os urubus reinam.

Minha terra está desolada.

Eu morro sufocado.

- Onde está meus lindos palmeirais?

Talvez transformaram-se em alguma casa,

Abrigando uma família humilde -

Pobre de espírito e a barriga rocando a fome de dias melhores.

As flores que deixei são agora pastos e capim.

As frutas suculentas do quintal

Custam o salário mínimo a dúzia.

Quem me dera agora deitar-me na rede,

Chupar aquela carambola e, quem sabe,

Escutar o canto do sabiá que tem certidão de nascimento.

Queria deitar à sombra

De uma palmeira

Que já quase não há.

- Que fizemos nós desta terra prometida?

A terra que mana leite e mel

É, na verdade, seca e miséria.

Já não há em nós a idolatria da pátria.

Perdemos a esperança nesta terra sofrida.

Nosso povo massacrado agarra-se a divindade.

Oh, Deus, não nos abandone!

Oh, Virgem e Santos, olhai por nós!

A humanidade foi-se junto com o sabiá.

E assim como ele, também está em extinção.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 26/09/2015
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