O SERINGUEIRO DO LIVRAMENTO

Nosso sítio Livramento nos rincões do Paranã
Mas não tão distante da nossa querida terrinha
Subindo o Rio Madeira depois de Aripuanã
Tenho ternas lembranças daquele torrãozinho

Lembro daquela nossa velha casa de madeira 
Mamãe na prancha de cedro sendo lavadeira  
Aquele campinho onde nos jogávamos bola
Todas essas recordações eu trago na cachola

Papai saía de madrugada antes do galo cantar
Ele pegava a poronga, as tigelas e o bornal 
Não esquecia a faca e seguia para o seringal
Enfrentava a mata para seringueiras cortar  

Eram muitas estradas daquela planta preciosa
Ele as cortava alternando para o látex render
Toda seringueira era para ele muito valiosa
Delas tirava o sustento para família oferecer

Mais tarde eu saía e refazia os seus passos
Mamãe me dava a sacola e eu dava um laço 
Eu levava água, farinha, carne frita e café
Seguia pela estrada sozinho... Mas ia com fé 

Aquele simples alimento era a sua merenda
Eu sempre o encontrava na velha árvore caída
Ele se alimentava e ficava pensando na vida
Talvez planejando quanto daria a sua venda

Ele não perdia tempo para o leite não coalhar
E nos ombros colocava os baldes de cuieira
As tigelas já com látex ele começava a coletar
Lembrava de ter deixado atado a malhadeira

Chegava em casa e colocava o leite na bacia
Tinha assim ganhado a metade do seu  dia
Seguia para o porto e desatava a sua canoa
Malhadeira com peixes, é a pescaria foi boa 

Antes da técnica da prensa era no defumador
O seringueiro sofria pra produzir a borracha 
Era como respirar fumaça preso numa caixa
A  prensa amenizou do pulmão a grande dor

O leite de seringa instigava nossa criatividade  
Colocávamos o látex nos galhos do mamoeiro 
Depois de defumado tava pronta a baladeira
E aquela pesada bola de sernambi? Saudade!


( Fabio Ribeiro )