Jangada ao mar

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Jangada ao mar

Ao irromper de cada aurora;

Velas outrora fechadas em si.

No porto – cais vivo às margens mornas;

Aguardam o grito: – Hora de ir!

Ao toque gentil do artífice;

Cuja vida está no mar.

A brisa – nobre frescor, alento;

Cumprimenta-os, doce, à superfície:

Ah! Jangada ao vento...

Que nos trarás do mar?

– Hora de ir!

Grita, por fim, o mestre d’água

Liberando as toras do chão;

Altivo fala – sonora expressão.

À mercê da mãe infinda, agora está;

Coteja horizontes: ora o cais, ora o mar.

E aos poucos, devagarzinho, vai sumindo...

Deixando saudades aqui.

Ah! Jangada ao vento!

Que nos trarás do mar?

Ilha viva de madeira, lona e suor;

Circundada pela imensidão.

Quantas trevas, à noitinha,

Suportaste na solidão?

É hora de parar!

É a risca – ilusão navegante.

– Âncora ao mar! – esta voz, conheço;

É do mestre por quem tenho apreço.

Ah! Jangada ao vento...

Que nos trarás do mar?

Inicia-se a pescaria;

Sob os arrufos do mar.

E o vento, em ventania;

Faz a jangada bailar.

Redes – efêmeros grilhões;

São puxadas a passo lento.

Trazendo, ainda arredios, relutantes,

Os frutos do “passatempo”.

Ah! Jangada ao vento!

Que nos trarás do mar?

E o vento, em ventania,

Aos poucos bravio fica.

– Mestre! – grita o tripulante.

Está rezando, agarrado a uma fita...

– Calma!

São caprichos do mar...

Mas não percamos tempo

E vamos a âncora içar.

Ah! Jangada ao vento...

Que nos trarás do mar?

Pequenina, dócil e frágil;

Fica à deriva a embarcação.

E o mestre, prevendo o futuro,

Improvisa manobras em vão.

E as ondas se avolumam

Causando espanto aos olhos pagãos.

E agora Deus?

Acode-nos! Não vem, não?!

Ah! Jangada ao vento!

Por que ainda estás no mar?

De repente a calmaria...

Veio suave, de mansinho.

E as gaivotas, agora tristonhas,

Sumiram – eram tão medonhas!

Sorri, qual menino, a tripulação;

E o mestre agradece a bênção.

Chorando – voz fraca, contrita;

Esboça um ritual e desfaz-se da fita.

Ah! Jangada ao vento...

Por que ainda estás no mar?

Empós dias mar adentro

No tenebroso e místico azul.

Vira-se a direção das velas;

Das novas terras do sul.

À tardinha, quando a brisa

Em direção a terra sopra;

Voltam os jangadeiros – dentes à mostra

Juntos à popa que desliza.

Ah! Jangada ao vento!

Nunca deixes de ir ao mar.

00h13min

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