Saudades do meu Barro Branco
Oh Vitória é de saudade que choro
É de tristeza todo o meu pranto
As lembranças me vêm agora
Ai que saudades do meu Barro Branco.
Lá eu andava pelas terras todas
Plantava o feijão pra nois comer
Tu preparava uma comida tão boa
Tinha a firmeza certa no fazer.
Os nossos filhos eram tão pequeninos
Eram tantos a nos dar prazer
Vinte filhos nós tivemos juntinhos
Vinte vidas eu vi nascer.
Manda Francisca ir buscar a água
Leva Raimundo pra acompanhar
Luiz e Antônia vão buscar a lenha
E Maria ajuda no jantar.
Olegário anda tão calado
Já tem uns dias que não quer falar
Vou perguntar se Pedro é o culpado
Ou se Antônio sabe o que é que há.
Espedita tão bonita cresce
E Sinésio a lhe acompanhar
Henrique no açude já amanhece
Damião e Zé passam o dia a brincar.
Maria de Lourdes é tão carinhosa
Que dá gosto inté de falar
Francisco ajuda a cuidar da roça
Enquanto Mário já sabe abóia.
Os nossos fios são nosso tesouro
Para alegrar o nosso ranchinho
Os outros quatro Deus levou pra ele
O céu carecia de anjinhos.
De tardinha no nosso terreiro
Eu me assentava para matutar
Agradecia pelo dia inteiro
Agradecia pelo meu lugar.
Em Bastião Cego quando tinha novena
Nois saia para ir rezar
Tua beleza me enchia os olhos
Causava inveja às santas do altar.
Depois de agasalhar nossas crianças
Chegava a hora de nois dois deitar
Eu alimentava as esperanças
Que aqueles dias nunca fossem passar.
Tanta riqueza tivemos na vida
Tantos momentos para recordar
Mas hoje a vida já não é tão bonita
Nem com a saúde eu posso contar.
Hoje entendo como as coisas acontecem
Os momentos têm que passar
Mas as verdade continuam na gente
Chega Vitória, me ajuda a deitar.
(Versos que escrevi para os meus avós, Manoel e Vitória. Mesmo sabendo que por conta da idade, eles não entendem a poesia de minhas palavras, sinto-me confortada em perceber que eles aceitam e admiram a poesia de meu beijo em suas faces.)