Minha trilha
em Gameleira,
nossas almas atoladas,
nossas raízes fincadas,
nossa história primeira.
no Limoeiro,
a reza, o passeio e a fé,
o oratório de minha vó,
e ainda, o cheiro dela
a torrar e pilar o café...
em Cruzeiro,
a ave-maria, o candeeiro,
a novena e a fogueira!
a doçura de meu avô
que nunca esperou a ceia
de pernas vazias...
todavia,
no alpendre enrolava o cigarro
de palha, na paz dum horizonte
que nunca acontecia,
a não ser, quando o cão
vencedor acenava e sumia...
o terreiro,
forrado de dálias e maravilhas
de todas as cores, uma cravina
aqui, outra acolá,
abriam-se alas às galinhas,
à porca-gorda e às cabras!
o vale,
o passe para vida,
as corredeiras de chuva,
a ladeira, o cafezal,
o cajueiro, sol a pino
de janeiro a janeiro!
a roça,
extensão do terreiro,
da casa e do galinheiro,
fazia de nós uma família,
e meu pai - o Lavoura, João
o jardineiro...
até hoje não sei o motivo
que lá, tudo acaba em "eiro!
talvez, seja porque o meu povo
é festeiro e um povo que crer
em milagres de padroeiros!
em Salgueiro,
de dona Amélia - da primavera
que perdeu a alegria,
e sua filha vermelha - a Verônica
ao pé do muro brotou,
de tanto a mãe desaguar!
gotejei ao ouvir sua dor...
em Juazeiro,
a procissão - qual, serra pelada,
a reza reluzia a peregrinação,
e o ouro jazia nos terços!
em Gravatá,
um oásis entre o sertão
e o agreste,
a suíça do nordeste!
João,
o caixeiro-viajante que era,
não duvido nada, senão, havia
em cada parada, uma família
à sua espera...
em Caruaru,
a feira, a cavalhada,
as fitas, as lanças e mantos,
as medalhas qu'ele trazia,
tão sagradas quanto azuis
e os gregorianos cantos!
Lavoura: apelido-sobrenome,
seu João - o carismático,
que por minha avó foi
sagrado ao coração de Maria,
o São, do sal da terra,
da minha Terra - João!
a cantoria - o repente,
o RAP da minha gente,
a cursar em minha veia
meu varal de poesia
que inda há de vingar,
qual flor de mandacaru,
e minha sede há de matar!