VACARIA E A TRADIÇÃO

Poesia classificada no

Rodeio Crioulo de 1966

Planalto soberbo e baita

a lendária Vacaria,

para saudá-la em poesia

evoco meu coração,

campo da imaginação

desta alma cheia de anseio,

para falar no Rodeio

orgulho da Tradição.

Delimitada por dois rios que

entre penhascos, escarpas,

correm tangendo como arpas

levando dores e sorte.

Rio Pelotas, corre ao Norte

e o das Antas, corre ao Sul,

d’água verde-escuro-azul

porém, dum ruído mui forte.

A antemural dos Aparados

é o seu limite a Leste,

Mato Português a Oeste,

numa beleza tutelar.

Por isso quero cantar

na minha xucra linguagem,

este Chão que deu padronagem

sem nunca se derrotar!

Antes de aqui entrar o branco

campo e mato, eram selvagens,

e por essas paragens *

habitava o primitivo,

de espírito redivivo

sempre pronto a pelear,

pra o pago não entregar

a um falso Pai Adotivo!

Os índios guaranás

coroados e botocudos,

eram nômades taludos

senhores deste Rincão,

depois, a Santa Oração

padre com índio mesclou,

foi Deus quem abençoou

esta progressiva união.

Ao longo dos corredores

do Planalto que então nascia,

dividiu-se em Sesmarias

as Vacarias do Mar,

pouco precisou mudar

para VACARIA chamar-se,

e o andejo pode orgulhar-se

quando ao pago retornar.

Lagunenses, açorianos

e paulistas em união,

foram em nosso Rincão

os bravos pioneiros,

que como João barreiros

com paciência, barro e bico,

ergueram ao moirão de angico

um baita Galpão Campeiro!!!

E surgiram as andanças

em incessantes tropeadas,

ao relento e ao frio das geadas

ou ao calor do sol ardente,

quando Deus Onipotente

legou presta raça a trilha,

mais o sangue farroupilha

que glorificou esta gente...

São tantas reminiscências

que vêm à nossa mente,

cargas de índios valentes

armados na desconfiança,

contra investidas de lança

do campeiro changador,

que defendia com ardor

o pago de sua esperança.

Ao tinido das esporas

rufar de ponchos e palas,

e a rima xucra das falas *

o passado então revivo,

de um povo nobre e altivo

de tradicional ardor,

e supremacia no amor

pelo Rio Grande Nativo!

Relembrando o passado

eu vejo à curta distância,

a crua e infeliz infância

dos que não voltam jamais...

Pois pelejaram demais

pra ser livre nosso pago,

andam tomando seus tragos

na andança do nunca mais...

Vacaria! Eu te canto

no meu cantar mais alto,

és a Rainha do Planalto

Catedral das Oliveiras,

dos CTGs, as bandeiras

tremulam com devoção,

resguardando a Tradição

das legendas mais campeiras.

E surgiu ao giro do tempo

no extremo Sul do Brasil,

em cinquenta e oito, ABRIL,

o PRIMEIRO RODEIO CRIOULO,

e já não deu desconsolo

para quem participou,

pois logo ali se formou

a fina flor de manjoulo.

De cinquenta e nove eu lembro

do Rodeio Crioulo, SEGUNDO,

que do Brasil, nosso mundo,

reuniu gente, o pago inteiro,

e em sessenta o TERCEIRO

já de âmbito internacional,

onde o lombo do bagual

foi berço hospitaleiro.

Entonado como um Deus

surgiram já sem pretexto

o QUARTO, QUINTO e o SEXTO

para orgulho deste Chão,

onde a taipa da Tradição

no recanto da história,

cicatrizou para a glória

as coisas do meu Rincão.

O SÉTIMO e o OITAVO foram

orgulho do chão nativo,

onde o pago redivivo

registrou consagração,

das causas da evolução

do Pago Tradicional,

o qual foi a catedral

do atavismo à oração.

E o NONO RODEIO eu garanto

demonstrará muito mais,

não ficará para trás

dos que já se realizaram,

ali sempre melhoraram

o conteúdo da disputa,

cadenciando sempre a luta

dos duelos que se formaram.

Na melodia da cordeona

ou bordoneio de um violão,

é o próprio coração

deste rude índio vago,

exclamando num afago

coisas que por dentro sente:

a lamúria do vivente,

é a alma deste meu pago....

Para mostrar a todos

aquilo que cultivamos,

que dos ancestrais herdamos

nós não devemos parar,

necessitamos cultuar

tudo o que de nosso é belo,

o VERDE, o VERMELHO e o AMARELO

do nosso PAVILHÃO SEM PAR!

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 06/08/2014
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