GUAMPA CRIOULA
Tu velha guampa crioula
onde embreto meu destino,
foi d’aspa dum boi brasino
que tu fostes falquejada.
Oh guampa que tanto adoro
e aos domingos te namoro
nos bolichos beira estrada.
Velha guampa, ao te afagar
no achego de minha mão
eu sinto em meu coração
um sentimento bagual,
me vem então na memória
velha arrancada de glória
em luta por um ideal.
Tu te lembras velha guampa
dum fandango de janeiro?
Que me parei mais faceiro
do que chinoca enfeitada.
Tu tremulavas no meu ombro
me dando muito assombro
dançando a polca mancada.
Depois te deixei de lado
sem saber qual o motivo,
só sei que fiquei cativo
duma prenda que dançava.
Era treze de janeiro
era meu dia companheiro
porque tudo ele ajeitava.
Agora que tenho comigo
a chinoca de meu agrado,
por quem te deixei de lado
num fandango de respeito.
Me perdoe velha guampa,
por não dormir mais na rampa
contigo de encontro ao peito.
E ao sorver de ti um trago
buenacha e crioula guampa,
eu sinto na minha estampa
sorver licor primitivo,
este licor que eu te falo
nos legou em seu vassalo
a canha por lenitivo.
Cada beijo que te dou
em tua boca enfeitiçada,
sinto Minh’alma penada
tal corredor de campanha,
porque no brete da vida
em sinto-me sem guarida
quando estou longe da canha.
Você guampa caborteira
quando de canha está cheia,
faz o índio virar a teia
depois de beber-te tudo.
Faz muito covarde xucro
é você a rainha do truco
velho jogo mui taludo.
Quantas vezes? Nem me lembro...
contigo virei proscrito,
chamei Santo de maldito
muito maldito de Santo.
E eu peço: Patrão Celeste,
perdoe este peão agreste
que fez erros por quebrantos.
E quando pelo destino
eu for então pealado,
antes de ser enterrado
lá no campo derradeiro,
peço que na Santa Campa
me coloquem esta “Guampa”,
por meu último travesseiro.