O LERUÁ DA PALMA

Já não temos quase nada,

Tradição quase nenhuma,

Salvo réstia de passado,

Relegada e moribunda.

Ainda recordo do tempo,

Manhã turva de outrora,

Ao romper d'aurora gris,

De certa Páscoa canora.

Cedo que havia desperto,

Co' inocência inda pueril.

Indaguei curioso da horda,

Que cruzara a tarde febril.

No sereno da velha Palma,

Em meio à missa da Matriz,

A horda cruzara altaneira,

Co' irresistível força motriz.

Recolhida na manhã do dia,

A verba da inseparável cana,

Partia reluzente de alegria,

Da Palma a luzidia caravana.

Em busca do pau do Judas

Seguia meio-dia ao serrote,

Avultando ao final da missa,

Sem nada a deter-lhe o trote.

Ao chegar deitavam a planta,

O "Judas" de cima desciam,

Aos poucos surgiam as rodas,

As toras de pau se erguiam.

Minha mãe então me disse:

"Meu filho, tu viste o Leruá.

Uma tradição popular primeva,

Das poucas que temos no lugar.

Nos meus tempos de menina,

Já me embalava o entoar:

'Sá Chiquinha, Sá Chiquinha,

Se a cachorra lhe mordeu,

Como eu gostava dela,

A dentada não doeu,

E tora, tora, Leruá!

Vamos torar! Leruá!

Pancada dura, Leruá!

De marruá! Leruá!

Levanta o pau, Leruá!

E vamos lá! Leruá!

Vicente Chico, Leruá!

É o campeão! Leruá!

O eterno rei, Leruá!

Da tradição! Leruá!

Salve o Cachica! Leruá!

Não morre não, Leruá!

O que nos toca, Leruá!

O coração! Leruá!'

(...)"

Eliton Meneses
Enviado por Eliton Meneses em 16/12/2013
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