RIO COREAÚ

Naveguei nas tuas águas,

Fortes correntes invernais,

Vindas do cimo da montanha,

Na cadência do remanso fugaz.

Caudaloso seguia o sinuoso leito.

Na simbiose cativa dos carnaubais.

Vicejando o vale rumo ao oceano.

Ora um mero regato poluído jaz.

O ronco da cheia era o prenúncio.

Da vindoura trágica desilusão.

Canoa de além-mundo à deriva.

Ocupada por ignota tripulação.

Os curiás sedentos de tuas águas,

Há tempos cessaram o seu cantar.

O índio ainda atiça o cão matreiro,

Para o suíno em disparada alcançar.

Rio, tuas águas levaram muito sonho.

Rio que medrou a minha tenra ilusão.

Por que te fizeram esse mal medonho?

Ó rio que corta a Palma do meu coração!

Noutra época fluente de março a agosto,

Ora quase depósito de resíduo e dejeto.

A vida foi banida ou morta de desgosto.

E o rio sucumbiu sob o descaso abjeto.

A ponte apagou a barragem da história.

No "Rabo da Gata" só restou desilusão.

O "Poço do Carro" só ficou na memória.

Até as lavadeiras olvidaram o "Socavão".

Das barreiras os meninos não pulam mais,

A alta mutambeira envelhecida ressequiu.

Assoreamento e moita morta dão os sinais.

Do lento arquejar do ecossistema que faliu.

O pau-do-rio não se avista em canto algum.

A cobra grande sozinha para o mundo partiu.

Os curumins ignoram o estouro do canapum.

Nem o imponente bambuzal da curva resistiu.

A mãe d'água desfaleceu e foi enterrada,

Naquele velho cemitério abandonado.

Seu espírito tornou-se alma penada.

Que ainda vela o seu filho desprezado.

Eliton Meneses
Enviado por Eliton Meneses em 16/12/2013
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