Meus pés encardidos sobre as nuvens
Querem me levar p'outros mundos
querem secar minhas lágrimas.
Minhas mãos calejadas procuram-te
ó moço da cidade perdida
mode eu depositar meu corpo no teu.
Nada sou: só flor que do chão batido nasceu
meu corpo já se perdeu
meu rosto o sol escureceu.
Aqui dentro sou tanta saudade...
Saudade do que nunca senti
Mas em sonho isso não tem idade!
Meu balde é meu único alaúde:
danço o chote da liberdade
enquanto vasculho ávida o açude.
Não há água pelas bandas de cá
nem alarde, só o silêncio das tardes
sem mágoa, sem dó, sem maldade.
E só penso no moço bonito.
que veio numa tarde amarela
tirar meu sossego bendito.
Quando no meu sonho enfim regressares
toma meu corpo brejeiro
que não mingou nessa terra esquecida.
Faz de mim tua mulher enamorada
meu seio o teu descanso à noite
e meu corpo a tua eterna morada.
Marcia Tigani _ JULHO 2013