Enxerida
Vinha ao longe, num riso
que sempre a cidade trazia.
Uns olhos retos, concisos,
um silêncio de mãos macias.
Apeava dum ônibus de linha.
Batia a porteira, fina, linda.
Abria na manhã de vinda
a festa na roça — branca
nuvem que céu não tinha.
Ficava em palavras brandas.
Sabor doce gomo de fruta.
Um rito pródigo de lavanda
ou de almíscar, ou de murta.
Calda de ameixa, manjar.
Bola queimada, ciranda.
À tarde, ia. Era de me levar
na saudade; ia sozinha.
Nunca entendi porque vinha.