Aguaceiro


 
Devastadora seca principiava o final.
Dava no rádio, em sintonia de ruídos,
tempo alterando de longe, no sinal
dos relâmpagos e trovões escondidos.

 
Dava no céu, quando o barrado levanta.
Súbito, ali no brejo, no agouro da acauã.
Infalível, no sal da lata, merejo da tampa.
Aviso de vir mais à noite, mais amanhã.

 
Fazia o vento, tremelicando a lamparina
ou zunindo o bambu, varal das antenas,
a nuvem rechonchuda disseminando fina
chuva implorada na fé de nove novenas.

 
Era um céu derretido,
estrondoso, sorridente,

o choro de saber doído
quando dói a sede da gente.


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Lamúria


É, findou mais um dia, a seca prospera,
hoje o céu chora com o canto do vento,
sim, a vida sem vida a chuva espera,
não há trégua, é eterno o tormento.


O chão lamuria seus cortes profundos.
Corre o menino no barro encarnado,
colhe esperança e cria os seus mundos,
ainda sorri o seu riso encantando.


Olhos deitados no berço da noite,
corpos se afagam num grito calado,
veste o leito de gozo em açoite


cospe o fel de um beijo doce-amargo.
Despem-se sonhos , cerram?se os olhos...
Nasce o dia, recomeça o cansaço.


- Aglaure Corrêa Martins
(Interação)

 
                                                                                  



Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 17/04/2013
Reeditado em 15/05/2013
Código do texto: T4246183
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