Aguaceiro
Devastadora seca principiava o final.
Dava no rádio, em sintonia de ruídos,
tempo alterando de longe, no sinal
dos relâmpagos e trovões escondidos.
Dava no céu, quando o barrado levanta.
Súbito, ali no brejo, no agouro da acauã.
Infalível, no sal da lata, merejo da tampa.
Aviso de vir mais à noite, mais amanhã.
Fazia o vento, tremelicando a lamparina
ou zunindo o bambu, varal das antenas,
a nuvem rechonchuda disseminando fina
chuva implorada na fé de nove novenas.
Era um céu derretido,
estrondoso, sorridente,
o choro de saber doído
quando dói a sede da gente.
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Lamúria
É, findou mais um dia, a seca prospera,
hoje o céu chora com o canto do vento,
sim, a vida sem vida a chuva espera,
não há trégua, é eterno o tormento.
O chão lamuria seus cortes profundos.
Corre o menino no barro encarnado,
colhe esperança e cria os seus mundos,
ainda sorri o seu riso encantando.
Olhos deitados no berço da noite,
corpos se afagam num grito calado,
veste o leito de gozo em açoite
cospe o fel de um beijo doce-amargo.
Despem-se sonhos , cerram?se os olhos...
Nasce o dia, recomeça o cansaço.
- Aglaure Corrêa Martins
(Interação)
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